Cansei...

Quer saber? Estou cansada! Cansada de tanta falsidade ao meu redor, cansada de tantos sorrisinhos 'meia boca' pra mostrar educação. Eu cansei de ver que olham pra mim e esperam algo que, sei lá, é o ideal. O ser ideal, já se anula por si só. Está apenas na ideia. Na cabeça dos babacas de plantão, esperando uma pessoa foda. Mas me diga: ser foda pra quê? Por quê? Se vale muito mais ser somente o que eu sou. Não quero impressionar, só viver. Eu já cansei de enfrentar filas pra conseguir as coisas que eu quero. Já cansei de estar sempre aqui pra quem está nem aí pra mim. Cansei de esperar por algo que nunca chega. Cansei de estudar e estudar, e ver os professores nem aí pro conteúdo. Eu cansei de verdade dessa rotina que me sufoca. Cansei de lembrar sozinha das coisas boas. Cansei de sonhar e ser desmotivada. Cansei de não sonhar para não ficar decepcionada. Eu cansei. E já cansei faz tempo... Cansei das pessoas que veem maldade em tudo. Que fingem que são boazinhas pra na verdade, esconder o que são. Cansei de gente que não vale nem o chão que pisa. Cansei das aulas de teoria linguística! Cansei de filosofar os fundamentos filosóficos. Puta que pariu, filosofia é descrença. É perder o chão. É ficar sem norte. É analisar os mínimos detalhes de tudo. E desse ceticismo eu também cansei. Cansei dos vizinhos do prédio. Cansei da minha casa. Cansei do meu quarto. Já cansei de mim. Que estou sempre disposta a auxiliar quem não sabe dedicar auxílio. Cansei de ver a rotina em tudo. Cansei de chegar em casa, ir pra faculdade e depois voltar pra casa. Cansei de fazer todos os dias a mesma coisa, isso é desgastante. Cansei da futilidade. Cansei da falta de responsabilidade. Cansei do egocentrismo de quem só olha pro próprio umbigo. Cansei das pessoas me dizendo qual seria a melhor maneira de educar meus filhos, se um dia os tiver. Cansei de abrir mão da minha família por nada, ou por qualquer coisa. Cansei de não ter um lugar real para chegar. Cansei desse mundo de merda, em decomposição. Cansei da porra toda mesmo! Cansei de ser diferente. E na verdade, eu acho que nunca fui. E se eu não for nada, se eu for comum, se eu for só mais uma, tanto faz sabe? Sou tudo o que sou de verdade. E não preciso bancar, nem fazer média. Pra quê afinal? Pra gostarem um pouquinho a mais de mim? Pra me aceitarem um pouco mais? Isso aí não vale à pena. Quem me ama, me ama assim mesmo: baixinha, magricela e abusada! E é isso mesmo que eu sou. Nada a menos, nada a mais. Que inferno. Cansei dos crentes, dizendo que Cristo está voltando...Se eu pudesse bater um papo com ele, diria que sinceramente ficasse lá pelo céu, pois qualquer coisa está mais legal do que as coisas por aqui. Cansei... Já cansei... E quer saber do mais legal?! Não adianta me revoltar, todos os dias começa tudo de novo, igualzinho. E eu vou vendo o tempo passar, cansada como sempre. De saco cheio de tudo. 

Doa-se

Sobra aqui um espaço, se quiser, pode ficar.
Não é lá o lugar mais perfeito, mas é dado de bom grato.
Pode não parecer o mais luxuoso dos lugares;
Mas é um lugarzinho sincero, bem frágil...

Sendo assim, só  peço um favor;
Cuide dele com carinho...
Pois já sofreu demais;
E não se incomode com as cicatrizes...

Meu coração é quentinho;
E sobra aqui um lugarzinho...
Pra quem souber o que é querer bem.

Doa-se...


.Aline Cardoso.

Esperar

Um erro irremediável. Que desde já, procrastinado está...

.Aline Cardoso.

Sobre Pessoas

Estava ontem sentada na cadeira do ônibus, voltando para casa, e no meu canto, podia escutar as conversas paralelas. Àquela hora da noite os assuntos e pessoas são variados: o cansaço do trabalho, o casamento, os filhos, o sono, o período difícil na faculdade, o cabelo que foi arrumado e em seguida choveu, o namorado que marcou um encontro com a amante e foi pego pela namorada no flagra, o dvd novo que foi comprado e funciona muito bem, o vizinho do lado que é sem noção e não sabe a hora de desligar o som, assaltos, tentativas de assalto, fugas de assaltos, assassinatos, acidentes, engarrafamentos, crianças que choram pedindo um doce, o peito da mãe, ou a manha que valha tão ação... Isso quando não tem ninguém fazendo o celular de carro de som...

_E aí moral, tais aonde?_ perguntou o motorista ao homem que estava sentado ao meu lado.
_Arrumei um emprego numa empresa e estou me esforçando!_respondeu o homem.

'E aí moral' Lembrei de outros diálogos masculinos, que também são interessantes, e extremamente estranhos! As ofensas são elogios, os elogios são ofensas, e o ego de 'macho' é sempre exaltado...

_Diz fresco!
_Fala veado!
Depois da saudação - que pode variar entre: biu-rosquinha, toba, caneco, canequeiro, corno, e outras variantes, que como mulher, desconheço.- vem então o diálogo!

_Teu time é uma merda mesmo! Viu a lapadinha que levou ontem?!
_Sai, caneco! Isso é coisa de momento, o juiz também num ajudava...
_Sei, esse fim de semana tem cervejada no Marquinho, tu vai?!
_Sei não, vou estar com a namorada. Se der, apareço.
_Ficou dominado mesmo esse corno!
_ Tua mãe veado!

Vai entender... De alguma forma, a pobre da mãe é insultada sem nem ter culpa de nada! Talvez ofender a mãe seja o xeque mate de uma discussão masculina... E dizer que o outro é gay é afirmar a imensa masculinidade e ostentar toda a testosterona que emana do 'macho', não sei, não entendo... Mas conversa de mulher também não fica por menos...

_Aaaaaaah! Não acreditooo! E era ela mesmo?!
_Foi, foi, era! E ele chegou bem na hora! Pegou tudo! Viu tudinho!
_Coitado, ele não merecia isso!
_Pra falar a verdade, merecia sim! Deixava ela em casa pra beber com os amigos!
_Ah, sei lá... Descobrir assim, é um choque muito grande!
_Você viu a bolsa de Samara? Um arraaaaso! Combina com um sapato que eu tenho!
_Achei meio cheguei, mas é de marca né?! Gostei do cinto dela!
_Tenho que fazer o cabelo, já marquei depilação, minhas unhas estão uma tristeza... Me deu uma fome!
_Ah, quando você for me liga! Adoro botar os babados em dia!
_Beijo amiga!

Não entendo, mesmo sendo mulher! Como é que uma gama de assuntos pode se misturar em um diálogo feminino? Tudo chega a parecer meio caótico, e o negócio fica bem pior dentro de banheiros, em círculos de conversas. E se o círculo em questão for de mulheres casadas então...Sai de perto, algumas conversas deveriam passar por censura!
No mais, já resolvi meu problema com esses diálogos paralelos, e os barulhos irritantes dentro dos ônibus, voltei a usar meus fones!! Santo remédio!

.Aline Cardoso.

Alforria

Deixe-me! Sou livre!
Talvez se você não tivesse vendido sua alma por um preço tão baixo ainda tivéssemos felicidade;
Se você não tivesse medo de encarar a vida de frente, com garra, as coisas fossem mais fáceis.
Não espere que as portas estejam sempre abertas para alguém que nunca soube merecer perdão.
Que se dane o mundo, que se dane tudo, foi o que eu ouvi, e o que importava era apenas o 'nós dois';
Estou aqui, mas desta vez não estou mais esperando, aliás, não espero por mais nada...Tenho pressa...
Pressa para retomar o tempo que me  foi roubado, e tolamente desperdiçado por um ser frívolo.
Meus sentimentos estão mais fortes, apoiados pelo ódio que tenho de mim quando lembro que fui sua;
Lembro que me permiti, de corpo e alma, ser de alguém que nunca soube nem de leve  o que é o  amor.
Não pense que eu não vou sair dessa sem marcas, mas quando olho no espelho, vejo alguém mais forte!
Hoje sei que não há nada me puxando para baixo, não há nada me deixando mal, afinal, você se foi.
E eu comemoro com lágrimas de satisfação! Não sabia ao certo o que fazer com a minha liberdade...
Talvez por isso tenha deixado você tomar conta dela por tanto tempo, sem me dar conta da tolice.
Mas hoje, me visto com a liberdade, me alimento dela. E a minha liberdade é exclusivamente minha;
Daqui para frente, quem quiser me amar terá que me deixar livre, pois sentir isso é o que me deixa viva.
Querido, não chore, pois eu já ateei fogo àquelas velhas fotografias, e às cartas incoerentes também!
Já estou me pintando. E agora vou à luta, com muita fome, e com muita sede...
Desta vez: deixa comigo, sei o que estou fazendo, não é a primeira vez, e na verdade, nem vai doer...
Já fui feliz outras vezes!

.Aline Cardoso.