quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Be Happy Now



Ontem me fizeram a seguinte pergunta: ' você está feliz?', não sei por que, mas nesse momento percebi que a felicidade é uma ilusão. E fui refletindo sobre isso enquanto caminhava até o ponto do ônibus. Observando os sorrisos das pessoas, as nuances que escapam sem que elas percebam, gosto de observar os detalhes dos outros, a maneira como conversam, o jeito que os olhos brilham quando recebem uma boa notícia, ou quando a raiva atinge o ápice. Fico no meu canto, ouvindo as conversas, lendo os lábios de longe, tentando imaginar dentro daquilo que eu vejo um pouquinho sobre a realidade de quem observo. A maioria das pessoas que observo sorriem, até os mendigos maltrapilhos sorriem, e há quem diga que até a múmia de Tutancâmon parece esboçar um sorriso. Todo mundo sorri quando se sente bem ou mal, inclusive eu. Mas será que mesmo não estando feliz ou triste também sorrio? Pois é, sorrio sim! Todo mundo sorri, mesmo estando triste, desanimado, cheio de dívidas, e problemas em casa, no trabalho, e por aí vai.Talvez sorrir seja a arte de mascarar os sentimentos. A relação entre o sorriso e a felicidade é frágil demais. E focando na felicidade agora, percebi que ela é só um sopro que teremos em alguns dias, e em outros ela será tão simples que só reconheceremos sua face com o passar dos anos. Há quem diga que a felicidade se constrói. Não acredito nisso, acho que em um segundo ela pode desmoronar como um castelinho de areia. Afinal, a felicidade talvez não se construa sozinha, e como já é sabido, construir algo com alguém é ter a certeza da incerteza, as pessoas mudam, as coisas mudam, e até as pedras mudam, quem dirá nós, seres 'evoluídos'. E se a felicidade pudesse ser mesmo construída, como seria? Teríamos que protelar brigas, engolir em seco os desaforos, fingir que não estamos vendo os problemas, ou que não os temos todos os dias? Acho que alguns loucos é que realmente são felizes, e talvez só eles consigam essa suspensão constante da realidade, a ponto de sempre pensar que está tudo bem, e que tudo é lindo, afinal, como diria Cândido: 'vivemos no melhor dos mundos possíveis.'. Acho que depois de tanto martelar minha cabeça afim de espremer o sumo deste pensamento, percebi que a felicidade é um estado de graça, e que satisfação é a palavra que deveria ser usada para nomear a nossa condição de 'felicidade'. Você está satisfeito? Aí sim, a resposta vem rápido. É um sim, ou não, e ponto. Não tem devaneio nem reflexão. Felicidade é um negócio complexo demais pra dizer que se tem, e que se vive nesse estado todos os dias. Mas, cortando agora as asas do meu pensamento. Não se deixe levar por mim, afinal, talvez eu é que seja a pessimista da história, e ache complicado demais ver beleza em tudo quanto é coisa triste nessa vida.

.Aline Cardoso.

Melodia



Deixe-me provar esta infusão de cores misturada a dissabores;
Permita-me ter a alma inebriada pelos arpejos incessantes
Deste teu velho violão, que me remete velhas dores.
Entre solfejos e amores, os dissabores tem sabor de ilusão.
Veja com os ouvidos e pense com o coração.
Apojatura do real  no dissonante íntimo de um ser.
No amor há harmonia, embalado a presto, com querer.
Deixe-se sentir, permita-se viver. Sinta novamente.
Da capo, é hora de retroceder...

.Aline Cardoso.


Marasmo



Hoje levantei da cama e não me preocupei com nada; Não há nada de desafiador me acontecendo, está tudo sempre mais ou menos, está tudo um tédio. Tudo na mesma bosta de sempre. E eu sempre me pergunto ' O que diabos estou fazendo aqui?'... As coisas que sempre faço perderam um pouco do sabor, na verdade, quase todo, dizer que foi pouco seria ingenuidade minha. Não tenho mais tanto ânimo para fazer muitas coisas, vou fazendo, e o que sair, saiu. O que acontecer, aconteceu. As pessoas um belo dia resolvem sacudir a poeira e levantar, acho que tem poeira demais em cima de mim. Acho que já desgastei minhas expectativas sobre as coisas ao meu redor, já não espero nada de muita gente. Na verdade, de quase todo mundo. Não é por maldade... É só pra ver se alguma coisa realmente grande me acontece. Pra ver se alguma coisa aparece e muda essa vidinha mais pra lá do que pra cá. As pessoas não percebem nada, e aí eu vejo como são superficiais. Perderam a capacidade de ler nas entrelinhas as sensações das outras. Ou talvez eu já tenha aprendido a me esconder muito bem dos outros. Eu levei a brincadeira a sério, fiz dela uma convicção. Mais um ano da minha vida se vai, tive bons momentos. Tive maus momentos também. Cheguei naquele ponto inerte da roda gigante. E tudo é tão chato quanto eu poderia supor. Vejo com clareza quem se adapta com o que tem, e vive feliz. Por que eu não me adapto ao que eu tenho afinal? Por que vejo tantos problemas no meu estado atual? Por que diabos não consigo simplesmente colocar a mão no queixo e esperar? Pela primeira vez em muito tempo não sinto nada de bom para acontecer. Sinto apenas que o tédio continuará raiando todos os dias, irá se pôr junto com a minha melancolia, e anoitecer passivo...Assim como todos os meus dias.


.Aline Cardoso.